quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Endometriose - entrevista feita por Dr. Drauzio Varela

Ahhhhh mulheres.... quantas pedrinhas do caminho temos que tirar!!!
Mas ainda bem que estamos em um momento em que a Medicina caminha a passos largos em busca de soluções para os mais diversos problemas. E a endometriose faz parte destas recentes descobertas, rumo à melhor qualidade de vida.
Eu mesma,após minha última gestação, sofri muitos anos com diagnósticos imprecisos em função da falta de exames específicos para tal diagnóstico...até que, há mais de 12 anos atrás, um especialista da área, Dr. Rogers Mariano, me devolveu a qualidade de vida, mesmo tendo tido acompanhamento por muitos anos.  O que realmente ficou da minha experiência, foi não me satisfazer com o primeiro diagnóstico e procurar um especialista que me fizesse sentir confiança e sentido em suas explicações. E  foi  exatamente assim que me senti com o Dr. Rogers Camargo Mariano da Silva - Ginecologista 
Então, como escuto muitos comentários de amigas e tantas mulheres, que passam por tal desconforto em suas vidas, resolvi postar esta entrevista do Dr. Drausio Varela, com o ginecologista Dr. Mauricio Abrão. Espero que tais informações possam ajudar quem passe pelo desconforto da Endometriose.


 Diagnóstico/Endometriose


 Dr. Maurício Simões Abrão é médico, professor de Ginecologia na 
Universidade São Paulo e dirige o Setor de  Endometriose do Hospital
 das Clínicas da USP. É autor dos livros 
"Endometriose: uma Visão Contemporânea" (Editora Revinter) e, pela Editora Roca,  
"Câncer de Ovário" (co-autoria com Fauze S. Abrão).

Drauzio - O que é a endometriose?
Maurício Abrão - A endometriose ocorre quando o endométrio, ou seja, o tecido que reveste a cavidade uterina, implanta-se fora do útero. Trata-se de uma doença estudada há muito tempo. As primeiras teorias sobre o assunto têm mais de cem anos. Cogita-se que quando a mulher menstrua - e a menstruação nada mais é do que a eliminação do endométrio - fragmentos desse tecido podem caminhar pelas tubas, alcançar a cavidade abdominal, nela implantar-se e crescer sob a ação dos hormônios femininos. Hoje se sabe que mulheres normais também podem apresentar essa menstruação retrógada, isto é, a que faculta a chegada do endométrio na cavidade abdominal, mas só algumas têm endometriose. Pode-se concluir, então, que alguns fatores permitem a instalação dos implantes na cavidade peritoneal, entre eles, destaca-se o sistema imunológico da mulher.

Drauzio - Se examinar a cavidade abdominal de uma mulher sem sintomas característicos da endometriose, você poderá encontrar células do endométrio lá dentro?
Maurício Abrão - É possível encontrar células do endométrio lá dentro. Em alguns casos até, o endométrio pode ter ali se implantado provocando a endometriose sem que a mulher tenha muitos sintomas. Na verdade, a endometriose ocorre em 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva e que apresentam menstruação retrógrada, aquela que permite a implantação de células do endométrio na cavidade peritoneal.

Drauzio - Mulher cuja mãe teve endometriose corre maior risco de apresentar a doença?
Maurício Abrão - Alguns estudos recentes mostram que existe um fator hereditário que deve ser levado em conta nos casos de endometriose. Acontece que ainda é difícil identificar as mães portadoras de endometriose porque a doença era mal diagnosticada no passado. Acredito que daqui para frente, esse dado poderá ser mais facilmente considerado.

Drauzio - Quais são os outros fatores de risco. Existem mulheres com maior probabilidade de desenvolver a doença?
Maurício Abrão - A menstruação retrógrada leva o endométrio para a cavidade abdominal e a imunidade permite que ele se desenvolva e a doença ali se implante. Por isso, se estudam várias questões ligadas à imunidade da paciente. Uma delas, hoje muito comentada, é que o fator estresse esteja provavelmente associado ao problema. Sabe-se que mulheres com endometriose têm traços maiores de ansiedade e estresse. Um estudo desenvolvido no HC mostra isso com bastante clareza. Porque julgo esse tema importante, no capítulo "Ansiedade, Estresse e Endometriose" do livro que escrevi sobre a doença, dou especial destaque ao assunto e procuro explorá-lo em profundidade. Portanto, o estresse é um fator de risco assim como as condições ambientais, que têm sido muito mencionadas ultimamente. Isso vale para o câncer e vale para a endometriose. Fala-se, por exemplo, que algumas substâncias poluentes decorrentes de combustão, como as dioxinas, mostram que o fator ambiental não deve ser desprezado. Por fim, deve-se considerar o número de menstruações. Hoje, a mulher menstrua em média 400 vezes na vida, enquanto no começo do século passado menstruava apenas 40 vezes, porque a primeira menstruação ocorria mais tarde, ela engravidava mais cedo, tinha mais filhos e passava longos períodos amamentando.

Drauzio - As pessoas podem ter um pouco de dificuldade para entender como as células do endométrio vão parar na cavidade abdominal, quando o natural é serem eliminadas junto com a menstruação. A rigor, cada tecido do organismo foi preparado para viver dentro do órgão do qual faz parte. Se tiro um fragmento de pele e enxerto-o no estômago, ele será certamente rejeitado. Como, então, as células que escapam da cavidade uterina conseguem sobreviver e multiplicar-se noutro local?
Maurício Abrão - Esses outros fatores de risco associados à imunidade permitem que o endométrio se implante e aprofunde noutras áreas do organismo, gerando nova vascularização que favorece o desenvolvimento da doença. Basicamente, trata-se de questões locais vinculadas ao sistema de defesa da mulher que ainda não são totalmente conhecidas.

Drauzio - O normal seria que essas células do endométrio que migram para dentro da cavidade abdominal fossem rejeitadas e a mulher não desenvolvesse a doença.
Maurício Abrão - Na portadora de endometriose, essa rejeição inexiste ou é insuficiente para impedir que a doença se desenvolva.

Drauzio - Algumas pessoas acham que a endometriose possa ter características de doença maligna. Outras temem que possa virar câncer, porque o mecanismo das duas é até certo ponto semelhante.
Maurício Abrão - O mecanismo das duas doenças tem muitas similaridades. Sabe-se, porém, que a relação entre endometriose e câncer é muito pequena, em torno de 0,5% a 1% dos casos. Na verdade, apesar de não caracterizar uma doença maligna, a endometriose se comporta de modo parecido, no sentido de que as células crescem fora de seu lugar habitual. Embora, na maioria das vezes, esse crescimento não tenha conseqüências letais, acaba provocando muitos incômodos. Por isso, tornou-se foco de atenção dos profissionais que lidam especificamente com essa doença.

Drauzio - Há casos de endometriose com sintomas bem discretos enquanto outros são bem mais graves. Como se pode classificar a doença?
Maurício Abrão - A classificação da endometriose leva em conta a extensão da doença. A mais aceita hoje foi elaborada por uma sociedade americana e parte do procedimento de visualização das lesões, o passo seguinte depois do diagnóstico. Como já citamos, exame clínico, o marcador e exame de ultra-som são os meios adequados para definir as mulheres para as quais se deve indicar a laparoscopia, um exame realizado sob anestesia através de pequenas incisões no abdômen por onde se introduz um tubo ótico de aproximadamente 10mm de diâmetro para visualizar as áreas da cavidade abdominal em que se fixaram os implantes (nome que se dá ao tecido endometrial deslocado). É um procedimento cirúrgico menor que permite identificar tamanho, extensão e local de acometimento das lesões e iniciar imediatamente o tratamento adequado.

Drauzio - O tratamento para a endometriose é sempre cirúrgico ou a doença também responde a tratamentos clínicos?
Mauricio Abrão - Para os casos de doença avançada, o tratamento é sempre cirúrgico e seguido de complementação clínica. Para os casos iniciais, é possível compor um tratamento clínico com a pílula anticoncepcional combinada ou só com progesterona. Além disso, é de fundamental importância a prática de exercícios físicos e trabalhar a parte emocional da paciente, às vezes, recorrendo a um suporte psicoterápico, em virtude da influência que o estresse e a ansiedade exercem sobre a doença.

Drauzio - No que se refere ao estilo de vida, que conselhos você dá para as mulheres que têm endometriose?
Maurício Abrão - Por razões óbvias, dizer para a paciente - a partir de amanhã, você vai virar outra pessoa - não é o melhor conselho. Por isso, em primeiro lugar, procuro convencê-la de que fazer exercício físico é fundamental para que a doença seja administrada corretamente. É preciso que seja um exercício regrado, uma atividade aeróbica praticada de três a quatro vezes por semana, por 30 ou 40 minutos. Caminhar rapidamente, correr, nadar, andar de bicicleta ajudam a diminuir o limiar estrogênico e a melhorar a imunidade. Além disso, há a questão das características emocionais dessas pacientes, geralmente mulheres detalhistas, exigentes, com dificuldade de dizer não, que precisam aprender a valorizar-se e a psicoterapia de apoio pode ajudar muito nesse sentido.

Drauzio - Você recomenda algum tipo de dieta especial?
Maurício Abrão - Não existe nenhuma indicação clara de que determinados alimentos possam piorar o quadro. Alguns trabalhos têm sido encaminhados nesse sentido, mas não chegaram a conclusões definitivas. Acho que dieta equilibrada, sem excessos, é ainda a melhor forma de ajudar no tratamento.

Drauzio - Bebida alcoólica é contra-indicada?
Mauricio Abrão - Não há evidências em relação ao consumo de bebidas alcoólicas pelas portadoras de endometriose.


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