terça-feira, 4 de novembro de 2025

Os meus "quases"...

Se hoje fosse o último dia, da minha vida..se o amanhã não existisse mais, eu me despediria da seguinte forma: não foi uma passagem fácil; inúmeras adversidades e incontáveis momentos de superação!

A impressão que tenho, olhando desde o momento que nasci, é que nesta jornada, "o combinado" foi viver uma vida sozinha!

Mesmo nos momentos em que estive em contato com familiares,  casada ou em algum relacionamento, até mesmo, nas empresas em que atuei, eu sempre me senti caminhando sozinha!!

Tem algo, nesta minha vida, que me desconecta dos demais...

Algo do tipo: eu falo português e, qualquer outra pessoa, que faça parte do meu círculo, só fala russo, chinês, árabe...entende o que eu quero dizer?

Até aqui, sempre tive a impressão de que o que falo, não interessa; o como me sinto é irrelevante...mesmo que rasgue o coração para tentar explicar como estou...nada atinge a ninguém!

Se me fizesse valer de todos os elogios que já recebi, até hoje, eu seria a pessoa mais realizada deste mundo; até Luísa Trajano já me elogiou, frente a outras pessoas... incrível, neh?

Mas, as coisas não se concretizam, em minha vida; nada me faz ter ou sentir o pertencimento. 

Sabe quando a gente para em frente a um espelho e fica sem olhando, tentando enxergar o que não está visível para si mesmo?

Pois é...mesmo sem me olhar no espelho, eu o faço, mentalmente, com muita frequência..mas, não consigo achar o fio da meada...aquele que poderia me conectar com as pessoas, de forma efetiva!

Quando eu era "apenas" uma filha adotiva, sem ainda ter encontrado a minha mãe biológica e ter, finalmente, conhecido a minha história, eu costumava dizer: "sabe aquele balão de gás, que se solta da mão de uma criança e voa solto no ar, sem direção ou jamais aterrar? Pois é...me sentia assim, enquanto era apenas uma filha adotiva... 

Três anos se passaram e, com exceção de finalmente saber, o porquê fui colocada para adoção, a sensação de "balão de gás", continua muito presente em meus dias!

O "quase" é o termo que mais se adequa a esta minha vida; com exceção de ter gerado três filhos..

isso sim,  foi por inteiro!

Se amanhã eu não estivesse mais, por aqui, o resumo da ópera seria:  uma vida de "quases"...

E foram tantas as tentativas para realizar e não ficar no "quase"..

Tanta vontade de aprender..tanto interesse em falar vários idiomas...

Tantas áreas de atuação e tanta experiência...

Tantas pessoas que passaram em meu caminho e o quanto fiz para mantê-las, pertinho de mim..

Tantas crenças de que "agora vai dar certo"...'agora vai acontecer'..."agora vem pra ficar..."..."desta vez, estou no caminho certo, com a pessoa certa" ( seja lá em que tipo de relação fosse...)...

Mas, neste exato momento, olhando para uma vida inteira, eu realmente posso afirmar: não consegui sair do "quase"!

Sim...estou sob o diagnóstico de depressão forte...em tratamento contínuo já há mais de dois anos; o primeiro veio em 2008..

Lá se vão, 17 anos...

..e, desta vez, não estou conseguindo achar o "caminho de volta pra casa": 

me perdi de mim mesma!

Tudo o que eu poderia tentar para me resgatar, eu já tentei: psicólogo; psiquiatra; johrei; igreja; mesa quântica; Reiki; passe;  constelação familiar; óleo essencial;  massagem disso e daquilo..viagens, SPA e vários cursos...e nada me traz de volta...

Imagine você estar próximo de realizar um dos maiores sonhos da sua vida...aquilo que você idealiza, desde a sua adolescência, não tendo tido a oportunidade de realiza-lo, mesmo já estando na "melhor idade"...

Imaginou?

Como será que deveria estar, uma pessoa com o pezinho, na realização deste mega sonho, quase 50 anos sendo alimentado?

Pois é...continuo me sentindo no "quase", mesmo há tão poucos dias, dele se realizar!

Então, se hoje fosse o último dia, da minha vida, eu partiria daqui, com a sensação de "fiz o melhor que eu sabia, podia, conseguia..."

...porque nenhum ser humano, está nesta vida, pra se sentir tão sozinho... tão autônomo em vários segmentos da sua trajetória de vida!

A gente precisa de alguém que possamos contar, sem precisar pedir...me entende?

Tipo aquela parábola que, um filho adolescente pede aos pais, para fazer uma viagem de trem sozinho. Após relutar muito, os pais concordam...mas, a mãe, entrega  envelope fechado para o filho e diz: "só abra este envelope se você se sentir em qualquer tipo de apuros, qualquer um..."

E o filho embarca, com a certeza de que estava pronto para tudo o que pudesse acontecer...

Mas, os dias vão passando e a solidão começa a ficar forte, demais...

Não conhecia, absolutamente ninguem, naquele enorme trem!

Acordava e dormia, sem falar com quem quer que seja; refeições sozinho.. começou a sentir uma tristeza que não cabia em seu peito!

Até que se lembrou do envelope que a mãe havia lhe dado...aquele era o momento para abri-lo..

E pasme... lágrimas tomaram conta daquela face, quando leu: "se você estiver precisando de alguma coisa, seja lá o que for, saiba...eu e seu pai estamos no ultimo vagão..deste trem!..

Ahhh...como eu queria estar em meio àquele abraço que acredito ter acontecido, naquele reencontro...

Se hoje fosse o último dia, da minha vida, talvez, o que eu mais desejasse era sentir que, finalmente, consegui sair do "quase", como Élide: mulher, mãe, avó, profissional e ser humano..

Quem sabe, abrir um tal envelope e poder ler: " se precisar, seja lá do que for, estou aqui no último vagão.."

✨ Élide Soul ✨