Quando
pequena, o pai a chamava de "nenê"...e ela sentia todo o
carinho e ternura a cada "nenê" pronunciado....
Ela sabia
que tinha alguma pecinha que não se encaixava naquele quebra-cabeças
que tentava montar.. mas sua idade tenra, não permitia tal
encaixe...
Então,
lhe bastava o que conseguia entender...
Era
muito difícil ter a presença de pai e mãe juntos para um passeio
de domingo, por exemplo; pai alcoólatra e mãe com muitas mágoas no
coração. Mas,
mesmo que estivesse, ora com um, ora com outro, o que lhe preenchia o
coração era a proteção: como ela adorava se sentir protegida pelo
seu, "papinho".
E
"papinho" fazia todas as suas vontades: as que podia e as
que não podia também!!!
A amava acima de tudo; pra falar a verdade,
muitos achavam que era a única coisa que ele amava na vida...já que
a sua vida, ele já havia desistido há tempos...
O
álcool entrou sorrateiro, em sua vida, aos 17 anos e nunca mais ele
conseguiu abandoná-lo.
Era um homem letrado, culto e interessado em
atualidades; mas eram poucos os momentos que estava sóbrio e isto,
já abalava a sua saúde, percebido aos poucos, pelos poucos que
ainda o tinham em seu convívio...
Mas,
voltando à "nenê", que felicidade sentia à cada convite
que "papinho" lhe fazia: pedia para sua mãe lhe colocar a
melhor roupa....e lá ia a menininha, feliz da vida passear com seu
"papinho".
Sua
mãozinha, ele segurava com firmeza; mas nem seria preciso, porque
tudo o que ela mais queria era que ele segurasse a sua mão....a
sensação de proteção vinha daquela mão forte...e como ela
gostava daquilo...
E,
desde pequena, "nenê" já tinha um hábito: à cada saída
com papinho, sua mãozinha só se afastava um pouquinho da mão dele,
quando se deparava com uma folha seca... Ahhhh...isso
ela não resistia...tinha que esticar o braço do "papinho"
e pisar na folha seca....
E
que prazer sentia ao ouvir aquele barulhinho, um estalinho que
atingia o seu coração, de tamanha felicidade que sentia....
Mas
sempre escutava: Nenêêêê..... uma tentativa de papinho trazê-la
mais para perto, com medo que ela corresse para a rua....
Mas
"nenê" só queria pisar na folhinha seca...mais nada.....
Os
anos passaram....a cirrose levou "papinho" embora e "nenê"
se tornou uma mulher...quase adulta...
Porque,
até hoje, mais de 45 anos depois, ela não resiste a uma folha
seca...
Pode
até estar no salto alto...mas, tem que desviar o caminho e pisar na
folhinha seca....
E,
como uma saudade gostosa, que mesmo após, mais de 40 anos sem "papinho"
segurando sua mão, ele se faz presente, e lhe traz a sensação
gostosa, à cada folhinha seca pisada, de ouvi-lo dizer:
"nenêêêê".......
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