E não tem alegria maior, para uma criança, quando recebe a notícia de que vai viajar; ainda mais quando a criança em questão é uma filha única de uma casal com idade mais avançada.... o caso de Nenê.
Nenê tinha vários primos...mas, na ausência de irmãos, os considerava com tal. E pouco a pouco, eles já tinham suas vidas independentes; alguns casados, com filhos, outros ainda sem filhos. E o mais velho deles, tinha uma família linda, na qual Nenê se sentia aconchegada. Com priminhos pequenos, sempre que possível passava o final de semana na companhia deles e, de vez em quando, era convidada para viajar.
E naquele final de semana prolongado, o destino seria o litoral; naquela época, uma viagem de uns 100 km que duraria em torno de 2 horas.
Mochila pronta e Nenê estava muito feliz, com o final de semana que a esperava pela frente.
Naquela época, Nenê deveria estar em torno de 10 para 11 anos. Era uma menina muito reservada, para não dizer tímida. Fora educada em moldes rígidos onde o respeito a tudo e todos estava em primeiro lugar... quase em regime militar!!! Mas era uma criança doce, de fácil convívio.
O final de semana foi maravilhoso; apesar do movimento intenso que havia na praia... mas todos se divertiram muito, principalmente as crianças.
Até que chegou o momento do retorno. Sua prima, a mãe das crianças era extremamente cuidadosa e não esqueci um só detalhe para o transporte seguro e confortável das crianças, incluindo Nenê. Providenciou muita água potável, bolachinhas, sucos e lanchinhos, embalados individualmente.
A viagem de retorno teria, a princípio a duração de 2 horas; mas o congestionamento foi tão grande na travessia de uma ponte pênsil, que a viagem acabou demorando muito mais!!!
Quando fazia mais uma menos uma hora que estavam no carro, foi oferecido às crianças, um lanchinho com recheio de presunto e Nenê aceitou. Ela estava no banco de trás com os priminhos e o tempo foi passando....
Conseguiram chegar em casa, em torno de quatro horas após a saída do litoral e, quando a mamãe das crianças abriu a porta do carro, olhou assustada para a mão de Nenê e questionou:
E Nenê timidamente baixou a cabeça, sem coragem para responder. Até que a prima questionou novamente:
Você não gosta de presunto?
E com mais timidez ainda, Nenê movimentou a cabeça em sinal negativo.... mas muito envergonhada...
E foi então que a prima quis saber porque ela não disse, simplesmente que não gostava de presunto quando lhe foi oferecido o lanche, há mais ou menos, três horas antes daquele momento.
E com muito receio das consequências, Nenê respondeu:
Porque minha mãe me disse que não podemos recusar oque os outros nos oferecem.... porque é falta de educação...falta de respeito!!!!
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Algumas dezenas de anos após o ocorrido, quando os primos se reúnem, esta história ainda vem a tona e sempre é motivo para muitas risadas....
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Mas, eu aqui do lado de fora, em minhas costumeiras conjecturas....

Quantos arquétipos foram incutidos em nossas ingênuas mentes infantis, manipulando as nossas ações e até mesmo a nossa individualidade, em função do que a sociedade espera de nós, ou melhor dizendo, espera dos filhos dos nossos pais???
E o quanto uma criança tem que se fortalecer em sua auto-estima, já na idade adulta, para transpor o que não lhe é conveniente, o que não lhe interessa?
Outro dia, em um dos posts publicados, questionei sobre quantos sapos temos engolido?
E hoje a pergunta que deixo é a seguinte:
Você ainda aceita todos os "lanchinhos de presunto" que lhe oferecem?
E por quanto tempo ainda os segura em suas mãos?
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