domingo, 10 de agosto de 2014

Dia dos Pais: O meu bebê – por Leo Jaime


Quando eu chego, e ele me vê, sai correndo, às gargalhadas, e pula no meu pescoço. Eu o abraço inteiro mas não muito forte pra não sufocar. Ele tem um cantinho, no meu colo, que é o favorito desde que nasceu. Encosta o rosto no meu ombro esquerdo, empina a bundinha pra trás e se encaixa com os bracinhos à volta do meu pescoço.. Eu chamo isso de “sapinho do papai”. Depois de alguns segundos quietinho ele se levanta e fica olhando para mim em silêncio. Seus olhos e boca sorriem e a gente não precisa dizer nada. Algumas vezes a gente fica se olhando e começa a rir de novo. Sem sabermos bem do quê. Estes são os melhores momentos da minha vida.
São muitas as conversas silenciosas que temos. Não imaginava que isso fosse comum entre pai e filho. Eu pensava que a comunicação se daria melhor depois que ele já falasse e que os recém-nascidos se comunicavam bem exclusivamente com a mãe. Pois minhas teorias foram por terra no momento em que ele nasceu No instante em que ele foi tirado da barriga da mãe – eu gravava com uma pequena câmera fotográfica – ele demorou um segundo e meio pra começar a chorar. Embora minha mão não tenha tremido, o chão para mim se abriu naquele instante mínimo e duradouro. Ele começou a chorar, ufa, e foi levado.
Fiquei alguns segundos confortando a mãe e, em seguida, fui até ele que chorava incessantemente. Cheguei perto, estavam passando tinta no pezinho, e disse a ele pra ficar tranqüilo porque eu estava lá. Ofereci meu dedo para ele segurar, enquanto falava. Imediatamente ele parou de chorar. E segurou meu dedo até que pudesse vir para o meu colo. Pronto. Tínhamos feito a conexão.
Nas sonecas da tarde ou quando está doente ele dorme na cama comigo. Nos embolamos e nunca nos machucamos. A primeira vez em que dormimos abraçadinhos ele tinha menos de 3 meses. E se ele aparece na cama sem que eu seja avisado, mesmo dormindo abro espaço para ele. E olha que ele se esparrama sobre mim, deita com o rosto sobre o meu, procura os encaixes mais improváveis. Costumo dizer que o meu corpo é o playground dele. É fato: não precisamos de nenhum brinquedo para ter horas de diversão.
As primeiras papinhas dele fui eu quem cozinhou. Dos passeios que temos a dois, ir ao mercado é uma delas. Ver as frutas e os legumes, tocar, provar e conhecer aquele mundo de cores e cheiros. Peço sempre a ajuda dele para escolher os melhores. O primeiro cinema, assistimos juntos, e ele ficou até o final e sem dormir, na semana em que fez um ano e três meses. Neste primeiro ano ele gostava muito de ouvir um disco meu na hora de dormir. Como é que com três meses ele conseguiu ficar atento durante vários minutos ouvindo as musicas novas que eu tinha acabado de gravar?
Meu bebê vai fazer três anos. Com ele descobri que tenho, enfim, uma vocação: nasci para ser pai e gosto muito disso. Muito. Deixo que ele dirija as brincadeiras e não brigo com ele à toa. Mas quando o faço ele fica triste. Ele não gosta de me chatear. As outras coisas que faço na vida, as que fiz, são apenas as coisas que todos temos que fazer pra ganhar a vida. Ele é a minha história seguindo seu curso, saindo de mim. É o amor que pretendo deixar. E que se espalha pelo mundo em seu sorriso encantador.
Ser pai é, na maior parte do tempo, muito duro. São escolhas que fazemos, o tempo todo, para as quais nunca temos tempo de nos preparar. São perguntas difíceis que não sabíamos que iriam cair na prova.
Surpresas e emoções o tempo todo. Ser pai é, sobretudo, ser exemplo. Mesmo quando não sabemos, quando não atinamos para o fato de que estamos sendo exemplo
Em nossos momentos a dois temos conversas maravilhosas. Quando passeamos no Jardim Botânico eu aponto os passarinhos e ele dificilmente os vê mas sabe que eles que cantam e alegram o dia. Passamos por todas as árvores e ele já sabe que cada uma tem um nome e que elas são muito bonitas e podem crescer muito. Ao final de um desses passeios ele pode dizer: “Papai, estou cansado. Conta uma história?” Ou pode simplesmente fechar os olhos e dormir. Seguro por saber que estou olhando por ele. Seguro do meu amor por ele. Feliz porque podemos não ter todo o tempo do mundo mas aproveitamos muito bem nossos momentos.
Realmente não dá pra traduzir em palavras o quanto são especiais os nossos momentos corriqueiros. Ou, talvez, eu precisasse de muitas páginas como essa.

Depois de quase quatro anos releio o que escrevi e encontro a mesma verdade interior se estendendo, crescendo. Neste momento estou escutando ele dedilhar o violão que me pediu de dias das crianças no ano passado. Pediu para que eu o ensinasse e agora, que já está na escola, está tomando aula com professores mais hábeis.
Agora ele não é mais um bebê grande; é um menininho. Banguela, com a sinceridade que só os sorriso banguelas conseguem ter. E eu continuo sendo o campeão mundial de risadas do meu filho, embora ele goste muito de rir de um monte de coisas.
Agora há pouco estávamos brincando de “o cavalo vai crescer”, uma brincadeira que inventamos quando ele tinha um ano e meio e que continua produzindo as mesmas gargalhadas até hoje. É simples: estamos na cama e ele sobre nas minhas costas e eu começo a me levantar para ficar de cavalinho , imitando os ruídos de um cavalo. E daí dou uma cavalgadazinha até que ele caia. Eu sei, é uma brincadeira boba. Mas nos faz rir a cinco anos. Será que é mesmo boba? Será que as coisas bobas não são fundamentais na infância?
Aproveito cada segundo de sua infância, que os compromissos me permitem fruir. Sei que daqui a pouco ele vai preferir a companhia do mundo. Mas terei dado ao meu filho a estrutura pra viver suas próprias aventuras. Exemplos, afeto, tempo, e a certeza de que estar com ele é sempre mais um prazer e diversão do que obrigação ou dever.

Leo Jaime, é ator, cantor, compositor e jornalista. www.leojaime.com.br

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