quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Embriagues da reflexão...

Era por volta das 22 horas...
Voltávamos para casa, após um lanche na padaria....

Tudo bem que as piadinhas andam em segundo plano; não estamos muito para risadas... os últimos dias não foram muito fáceis...mas não abrimos mão de estarmos juntos...SEMPRE!!!
E mesmo que o coração esteja avariado, com esta ou aquela decepção, eu e meu amor, maior companheiro da minha vida, sempre procuramos nos manter, um ao lado do outro...SEMPRE!!!
E enquanto comíamos, lá na padaria, divagávamos sobre histórias da nossa vida, como por exemplo filhos...
Como somos namorados, nossos filhos são dos nossos casamentos e não filhos em comum....
Mas pasmem.... tantos pontos em comum...eheheh
Eu comentei com ele:
"Nossa....incrível lembrar o quanto eu proporcionava coisas para os meus filhos, sem ter o conhecimento do pai deles....senão, com toda certeza, ele ficaria muiiiito bravo...ehehe..."
E ele comentou:
"Minha esposa (hoje falecida) fazia muito isso...eu tenho certeza!!! Ela proporcionava coisas para nossos filhos, que muitas vezes eu nem imaginava acontecer...ehehe"

E continuei...

"De quantas coisas eu abria mão para proporcionar para eles: roupas, viagens...até mesmo itens na alimentação. Meu dia era uma loucura só para levar e trazê-los de lá para cá....e daqui para lá...
Eu não os deixava utilizar o transporte público...houve época que estudavam em três escolas distintas e eu ainda trabalhava em um consultório médico, em período integral...e me descabelava para levar e trazê-los de carro...para que jamais passassem por qualquer situação constrangedora...."
Nossa....são tantas as recordações com filhos, né?
São tantos os detalhes....tantos cuidados....tanta dedicação....

Pegamos pãezinhos e saímos da padaria, de carro.
Mas ele resolveu me fazer uma surpresinha...como sempre faz...ehehe: passar pela fachada de um hospital grande, na cidade onde residimos, já com uma linda decoração de Natal.
Por alí ficamos alguns minutos...
Por volta das 22 horas, finalmente nos dirigimos para casa...
E aí chego onde eu realmente queria chegar:
Ao virarmos a rua do prédio onde moro, passamos por uma empresa de informática, com um portão bem alto fechado. Na calçada, conforme ele passou, eu vi um rapaz sentado no chão.
Com o carro em movimento, só consegui observar que ele estava bem vestido e que não era morador de rua.
Rapidamente pedi para o meu namorado manobrar o carro e voltar até aquele local; talvez aquele rapaz pudesse ter caído e estar precisando de ajuda...
E assim ele o fez....
Quando estacionou um pouco acima do local onde o tal rapaz estava sentado, pude perceber que havia uma senhora, de meia idade, ao lado dele. Não sabia quem era e imaginei ser mais uma pessoa que estava tentando ajudá-lo...
Pasmem...não era simplesmente uma senhora...
Era a mãe dele!!!
Ela estava tão assutada...ou tão envergonhada (não saberia dizer), que no primeiro momento que a abordei ela disse:
"Muito grata por vocês pararem aqui; ninguém faz isso que vocês estão fazendo!!!"
E eu logo lhe questionei:
"Ele caiu? Está ferido? Precisa de ajuda?
E claro, já pedi para o meu namorado estacionar o carro, já que estava na contramão e pedir ajuda ao 190 ou 192...
Foi quando percebi que o assunto era muito mais complexo do que simplesmente pedir ajuda ao resgate ou polícia: ele estava muiiiiito embriagado!!!
Eu posso dizer que era um rapaz de ótima aparência...mas que não  conseguia ficar em pé de tão alcoolizado que estava.
...claro que lembrei do meu pai; era muito comum vê-lo assim, até meus 14 anos...quando ele faleceu de cirrose...
E então, com muita dificuldade, aquele moço novo e bem vestido, conseguiu ficar em pé....veio na minha direção em uma calçada irregular....eu morrendo de medo dele perder o equilíbrio...e me disse:
"Muito obrigado senhora....essa é minha mãe....mas ela é louca!!!!
Ela sempre foi louca!!!!"
E olhava para ela e dizia: "Cala a boca...você é louca!!!"

Confesso que até sinto uma dor no estômago só de lembrar a cena...

Ele sentou novamente no chão...e ela me disse:
"Eu moro aqui pertinho, duas quadras....mas não posso deixá-lo sozinho; senão ele some ou cai....
Já liguei para o meu marido vir buscá-lo...que eu o achei....
Mas nosso carro é velho e às vezes, demora para pegar...
Mas eu vou ficar aqui esperando..."

Senti uma pontada no coração...e uma enorme prostração por não poder ajudá-la em absolutamente nada...quer dizer...eu apenas podia fazer uma oração para aquela mãe e aquele filho...e aquele pai....
Impossível colocá-lo dentro do carro; ele estava muito agressivo...
E ficar ali, junto a eles, só iria piorar a situação!!!

Entrei no carro do meu namorado...ele manobrou para voltarmos a descer a rua...e foi então que concluímos:
Deus é muito bom conosco: por mais decepções que possamos ter com este ou aquele filho, por mais que tenhamos nos dado tanto durante a criação, formação e educação destes seis seres (três de lá e três de cá), só podemos unir nossas mãos e agradecer ao Pai Maior o simples fato de jamais termos tido que sair atrás de qualquer um deles,procurando-os aqui ou ali ...jamais tê-los encontrado trançando as pernas e após toda esta preocupação, ainda sermos ofendidos frente aos estranhos....

Que Deus abençoe grandemente esta mãe....
Que Deus nos abençoe grandemente...
Mas que, acima de tudo, ELE nos dê a misericórdia de aceitarmos o que não conseguirmos modificar e administrar o que não conseguimos entender!!!

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