domingo, 14 de setembro de 2014

Mais uma vez...não poderia me calar!!!

Todos que me seguem, com certeza já perceberam que não trago para este meu cantinho, o sensacionalismo das notícias, questões políticas ou até mesmo religiosas.
Tenho por opção, utilizar este espaço para promover o bem estar, notícias que sejam de interesse comum,  artigos que nos edifiquem ou, na maioria dos meus artigos autorias, um outro lado sobre questões vivenciais.
Mas, antes de ser a web writter que cuida deste espaço como se fosse um filho, sou um ser humano com hábito comuns, como andar de transporte público e caminhar por muitas calçadas no meu ir e vir diário.
Atualmente, atuo em uma empresa, como Assessora de Comunicação, na região central de SP, mundialmente conhecida como a "Cracolância" (reduto dos moradores de rua, usuários de drogas).
E, mesmo tendo ficado muito assustada no primeiro momento em que pude ver tal realidade, fora da tela da minha TV, ao vivo e em cores, quase três meses depois, aprendi a respirar fundo e tentar encarar tal realidade, de  forma normal, sempre que possível.
Mas tudo nesta vida tem um limite e acredito que, na última sexta-feira, cheguei no meu!!!
Esta eu a poucos metros da empresa onde atuo e havia um sol lindo. Resolvi transitar pela calçada que nunca transito, só para tomar um pouco de sol antes de entrar na empresa. Tá certo que estou limitada aos banhos de sol, em função do tratamento de radioterapia que ainda estou submetida....mas imaginei que, só por uma quadra, não seria prejudicial.
Mas, mal imaginaria eu, o  que encontraria no final daquela quadra: uma pessoa, mulher, deitada no chão, muito suja, desacordada e, sob o meu olhar leigo, tendo uma convulsão. O corpo dela se debatia já lentamente e uma secreção era eliminada pela boca.  Olhei ao redor e, com exceção de duas pessoas do outro lado da rua, ninguém tomava qualquer providência. Fiquei indignada e não me contive: atravessei a rua e questionei aos dois observadores se alguém já havia solicitado um resgate, pois aquela mulher necessitava de cuidados médicos.
As informações estavam desencontradas; a única que era verdadeira, vinha de uma vendedora que comentou que a tal mulher era uma adolescente de 16 anos e que morava na rua, desde os dez anos!!!
Nossa...prefiro nem entrar no mérito dos meus pensamentos.... apenas que,aquela menina, poderia ser minha filha!!!
Mal recebo esta informação, identifico um policial fardado se aproximando e lógico, minha primeira atitude foi solicitar socorro para a tal menina.
Pasmem...ele "declinou" (como eles mesmo dizem) o meu pedido de ajuda!!!
Disse que era para eu ir lá, prestar os primeiros socorros, virar a cabeça, colocar um apoio embaixo e chamar o resgate.
Neste exato momento, acho que quem começou a babar fui eu... e de indignação!!!!
E não pensei duas vezes quando me dirigi ao policial e disse:
"Isso é omissão de socorro!!!! Você tem treinamento para isso e eu não: sou uma simples jornalista; não sei como proceder!!!
E nem quis entrar no mérito de que eu estava fazendo um tratamento de radioterapia e que, por orientações médicas, é melhor evitar tais contatos, em função da alteração de  imunidade que a quimioterapia provoca....
E quando me distraí, olhando para a tal menina, que entrava e mais uma crise convulsiva, ele se foi e me deixou falando sozinha!!!!
Não conseguiria mensurar a revolta que senti naquele exato momento!!!!
Pois bem...jornalista e profissional da área hoteleira, com muitos anos de atuação em eventos, sempre tem um plano "B"...e se necessário, um "C" também...ehehehe
Peguei meu celular e liguei para o tal resgate...e mais uma vez, a perplexidade tomou conta!!!
O tal policial que me atendeu, após meu pedido de ajuda para a tal menina, começou a me fazer perguntas absurdas tais como:

  • Quantos anos ela tem?
  • O que ela ingeriu ontem à noite?
  • Ela é diabética?
  • Já teve convulsões antes?
Gente.... eu não acreditava no que estava acontecendo.....e à cada resposta que eu dava dizendo que não conhecia a tal moça, ele fazia outra mais absurda. E o absurdo vem do fato de ter dito, no primeiro momento que não a conhecia, que estava à caminho da empresa onde trabalho e que a encontrei caída e em convulsão. 
E ele não parava de perguntar coisas, como se eu a conhecesse, não me escutava. Até que eu alterei o meu tom de voz e disse:
"Policial, eu não a conheço...nunca a vida na minha vida!!! Só estou ligando para solicitar uma ambulância e ajuda pois esta moça está necessitando de cuidados médicos!!!"
E sabe o que o tal policial me disse?
"Restrinja-se a responder SIM ou NÃO!!!!! E dirija-se até a vítima, com seu celular em mãos que eu irei te orientar nos procedimentos a seguir!!!"
Como eu poderia responder sim ou não para situações que eu desconhecia?!? E como eu iria tocar naquela moça, moradora de rua e usuária de drogas, estando submetida ao tratamento em que estou?!?
E foi neste exato momento que eu fiquei muito irritada e, sem titubear eu disse:
"Senhor Policial, eu sou jornalista e estava indo para  a empresa onde atuo como Assessora de Imprensa. Me deparei com esta moça, que jamais vi em minha vida e, após ter sido ignorada por um colega seu, eu resolvi ligar e solicitar uma ambulância. O Senhor está me fazendo perguntas que desconheço as respostas. E não me sinto apta a fazer nenhum procedimento de emergência com tal pessoa, pois não tenho qualquer habilidade para tal ação.Então, para encurtar a conversa, eu só quero saber: O senhor vai enviar ajuda ou eu vou ter que acionar os meios de comunicação de televisão que eu conheço para denunciar a omissão de socorro?
Confesso que o sangue havia subido tanto que nem me dei conta de que estava falando com uma autoridade policial e que poderia ser indiciada por desacato à autoridade. Mas que aquele atendente policial me tirou do sério...ahhhhh isso tirou!!!!
Neste mesmo momento, ele pediu para eu me dirigir ao telefone fixo mais próximo e nem me lembro exatamente porquê.
Então, atravessei a rua novamente, entrei no tal comércio que estavam observando a moça caída ao chão e pedi o número do telefone fixo. Em seguida, o telefone tocou e era o tal policial arrogante.
Neste meio tempo, fui informada de que havia, a 100 m dali, um posto do corpo de bombeiros e sem titubear novamente, me dirigi para o tal posto. 
Acabei por descobrir que era um depósito do Batalhão de Bombeiros. 
Toquei uma campainha, que se apresentou muito sonora e, em seguida apareceu, no andar de cima, um homem muito educado. Apesar do tanto que me sentia irritada, o abordei com a mesma educação que fui recebida:
"Por favor, sou Jornalista e estava à caminho da empresa em que atuo e me deparei com uma moça caída ao chão e em convulsão. Será que alguém poderia me acompanhar e prestar os primeiros socorros? Ela acabou de ter mais uma convulsão!!!"
Ele só me disse: " Um minuto!!!"
E acredito que não passou mesmo de um minuto!!!
Lá estava ele, já de uniforme e com luvas nas mãos. Me acompanhou pelos 100 metros aproximados que nos separava da tal menina e, graças à Deus, iniciou a verificação dos sinais vitais!!!!
Nossa...eu me senti tão aliviada em ter o bombeiro "Magalhães" prestando cuidados a tal moça!!!!
Voltar a respirar normalmente!!!!
Na sequência, algumas peguntas para conhecer os detalhes de como eu a havia encontrado...porém perguntas pertinentes....pediu meu telefone para solicitar resgate; fez alguns testes em relação à respiração dela e sinais vitais, onde identificou que ela estava, aparentemente, desmaiada.
Bem... os outros detalhes não são tão relevantes... a não ser que, ele ficou o tempo todo ao lado dela, até a ambulância chegar no local, 40 minutos depois da chegada dele.
O que mais me deixou perplexa é que aquela abertura que se pode ver na parte de cima da imagem, do lado direito, é a porta de saída de uma padaria muito movimentada nesta área... e que, sem contar as pessoas que ficam no caixa, várias outras saíram de lá e ninguém ....pasmem, absolutamente ninguém, tomou qualquer providência!!!!
E quer saber por que?
Por que ela é uma moradora de rua, usuária de droga e, aos olhos da sociedade, sem condições de recuperação para um convívio normal.

E aí, vou lá para minhas conjecturas costumeiras e pergunto:
Quem é mais anormal: o usuário de drogas, morador de rua... ou quem o vê caído na rua, em crise de convulsão e, não só o ignora como também se omite de ajudar, ou ao menos, buscar ajuda?!?
Desde quando uma pessoa que mora nas ruas, deixou de ser um Humano?!?



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