"O saber a gente aprende com os mestres e os livros.
A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes."
(Cora Coralina)
Um dos períodos mais difíceis, porém mais edificantes de minha vida, foi quando sofri um acidente e fraturei a lombar. E lá se foram quase seis meses na cama, até a liberação do médico para voltar a andar. E mais um longo período em torno de 20 meses dedicados à fisioterapia.
E a minha vida profissional ficou totalmente paralisada por dois anos...mas não a minha mente ou muito menos a vontade de produzir.
Na medida em que as sequelas foram distanciando-se do meu dia a dia, a equipe médica me liberava um pouquinho mais para atividades externas....mas ainda não liberada para atividades rotineiras no campo profissional.
E como sou uma pessoa cuja mente jamais se acomoda, mesmo mediante de uma situação como a que passei, resolvi me envolver em trabalhos voluntários, pois assim, teria uma atividade sem rotina diária, mas que com certeza, obteria muitos benefícios pessoais através de um imenso aprendizado.
E a "Casa do Serviço" estava de braços abertos para me receber.
Era (e digo assim pois tal espaço, infelizmente, não existe mais) uma casa localizada na Vila Mariana, em São Paulo, onde um grupo de voluntários se revezavam para preparar refeições e servir, no horário de almoço, para moradores de rua.
E a parte mais interessante era que tal proposta não era ir até os moradores de rua e sim, abrir as portas para recebê-los.
Este projeto era uma extensão do trabalho de um grupo espiritualista e o que mais me atraia era a constante preocupação em servir a todos, indistintamente, com imenso amor e respeito, além do trabalho em equipe, claro!
Lá não tínhamos sobrenomes, roupas de marcas, carros importados, casas confortáveis, milhas em viagens...etc...etc...etc.... tínhamos apenas o a mor ao próximo e a vontade de lhes propiciar o que as opções na vida lhes roubara....
E isso vinha totalmente de encontro aquele momento de minha vida, o qual eu havia me reencontrado com o amor universal....sentir a vida por um fio e depois ter um primeiro diagnóstico como possível paraplegia, muda em muito a nossa percepção pela vida!!!
Mas já conseguindo ir e vir sozinha, sem ajuda de órteses (muletas, bengalas, etc...) ou pessoas, já me propiciava a fazer parte deste grupo...e isso me trazia a sensação de estar produtiva novamente e da melhor forma possível!!!!
E para alguém que sempre teve uma vida confortável, permeada pela proteção e calor humano, conhecer alguns daqueles seres intitulados "mendigos".... foi uma experiência ímpar em minha vida!!!
Pausa: Mas será que você imagina de onde vem a palavra "mendigo"?
Na verdade a palavra "mendigo" foi suprimida de uma expressão utilizada pelas pessoas que recebiam esmola.
"Trocando em miúdos", foi o famoso "telefone sem fio" da história.
As pessoas que davam esmola falavam:
- Amém.
A pessoas que recebiam respondiam:
-Amém digo eu.
Daí MENDIGO.
...voltando....ehehe
Normalmente eu atuava como voluntária naquele espaço duas vezes na semana...mas haviam atividades para eles, moradores de rua, em todas as tardes...e não estou me referindo apenas à alimentação.
O grupo era muito organizado e voluntários para várias áreas:
Médicos com especialidades definidas, como psiquiatra, psicólogo, etc, para um primeiro diagnóstico e possível encaminhamento para hospitais da região; terapeutas, artesãs, pedagogas e tantas outras formações que se misturavam à grande vontade de promover a mudança na vida de todas aquelas pessoas.
Diariamente passavam por lá, em busca de alimentação no horário do almoço, mais de 100 pessoas e além da alimentação totalmente gratuita, os que se interessassem poderiam participar das atividades extras, propostas pela casa.
A minha função era preparar os alimentos pela manhã e participar do serviço no horário do almoço...mas tudo era tão intenso que quase nunca eu me contentava com minhas atividades.
Então comecei a participar da ARTETERAPIA, uma proposta muito interessante, de uma psico-pedagoga que, através de atividades lúdicas, com materiais diversos, identificava limitações individuais e, naquele curto espaço de tempo, tentava promover mudanças na forma do caminhar daquele indivíduo. Era emocionante demais!!! Quantas vezes lágrimas corriam por minha face!!!
E o mais fácil de ser identificado, à cada tarde de quarta-feira que nos reuníamos, era a carência daquelas pessoas, o quanto necessitavam ser vistos e escutados...e muitas vezes...simplesmente abraçados!!!
No início não era fácil pois estamos falando de pessoas moradores de rua, sem acesso às facilidades de uma simples higiene pessoal, o que dirá então roupas limpas, cheirosas como as nossas....
E eles se deliciavam quando promovíamos simples comemorações em datas especiais, tais como uma festinha junina, por exemplo. A ligação deles com a música é algo incrível: uns se emocionavam, outros cantavam...outros simplesmente escutavam...mas tem até os que sabem tocar um violão, por exemplo....e não pensavam duas vezes em pedir ao músico voluntário Flávio, se poderia emprestar o violão....ehehehe
E foram tantos nomes: Marianas, Sérgios, Pedros, Marias, Franciscos....tantos seres tão especiais!!!!
Nossa...passaria aqui.... horas e horas descrevendo o que foram estes quase 18 meses de total participação neste trabalho tão edificante que a vida me deu de presente.....
Mas, a vida real está me chamando....e é hora de parar de contar histórias....mesmo que elas façam tanto sentido em minha vida!!!!
E por tudo isso é que eu levo a minha vida da forma mais simples possível.... porque já tive a oportunidade, mesmo estando deste lado do conforto, de conviver com quem não teve tantas oportunidades quanto eu!!!
Posso ter conhecimento, bens, portas abertas onde quer que eu vá...tão diferente deles...mas na essência, sou exatamente igual à cada um deles: com sabedoria, sentimentos e muitas emoções!!!!
(fonte: http://origemdapalavra.blogspot.com.br)
A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes."
(Cora Coralina)
Um dos períodos mais difíceis, porém mais edificantes de minha vida, foi quando sofri um acidente e fraturei a lombar. E lá se foram quase seis meses na cama, até a liberação do médico para voltar a andar. E mais um longo período em torno de 20 meses dedicados à fisioterapia.
E a minha vida profissional ficou totalmente paralisada por dois anos...mas não a minha mente ou muito menos a vontade de produzir.
Na medida em que as sequelas foram distanciando-se do meu dia a dia, a equipe médica me liberava um pouquinho mais para atividades externas....mas ainda não liberada para atividades rotineiras no campo profissional.
E como sou uma pessoa cuja mente jamais se acomoda, mesmo mediante de uma situação como a que passei, resolvi me envolver em trabalhos voluntários, pois assim, teria uma atividade sem rotina diária, mas que com certeza, obteria muitos benefícios pessoais através de um imenso aprendizado.
E a "Casa do Serviço" estava de braços abertos para me receber.
Era (e digo assim pois tal espaço, infelizmente, não existe mais) uma casa localizada na Vila Mariana, em São Paulo, onde um grupo de voluntários se revezavam para preparar refeições e servir, no horário de almoço, para moradores de rua.
E a parte mais interessante era que tal proposta não era ir até os moradores de rua e sim, abrir as portas para recebê-los.
Este projeto era uma extensão do trabalho de um grupo espiritualista e o que mais me atraia era a constante preocupação em servir a todos, indistintamente, com imenso amor e respeito, além do trabalho em equipe, claro!
Lá não tínhamos sobrenomes, roupas de marcas, carros importados, casas confortáveis, milhas em viagens...etc...etc...etc.... tínhamos apenas o a mor ao próximo e a vontade de lhes propiciar o que as opções na vida lhes roubara....
E isso vinha totalmente de encontro aquele momento de minha vida, o qual eu havia me reencontrado com o amor universal....sentir a vida por um fio e depois ter um primeiro diagnóstico como possível paraplegia, muda em muito a nossa percepção pela vida!!!
Mas já conseguindo ir e vir sozinha, sem ajuda de órteses (muletas, bengalas, etc...) ou pessoas, já me propiciava a fazer parte deste grupo...e isso me trazia a sensação de estar produtiva novamente e da melhor forma possível!!!!
E para alguém que sempre teve uma vida confortável, permeada pela proteção e calor humano, conhecer alguns daqueles seres intitulados "mendigos".... foi uma experiência ímpar em minha vida!!!
Na verdade a palavra "mendigo" foi suprimida de uma expressão utilizada pelas pessoas que recebiam esmola.
"Trocando em miúdos", foi o famoso "telefone sem fio" da história.
As pessoas que davam esmola falavam:
- Amém.
A pessoas que recebiam respondiam:
-Amém digo eu.
Daí MENDIGO.
...voltando....ehehe
O grupo era muito organizado e voluntários para várias áreas:
Médicos com especialidades definidas, como psiquiatra, psicólogo, etc, para um primeiro diagnóstico e possível encaminhamento para hospitais da região; terapeutas, artesãs, pedagogas e tantas outras formações que se misturavam à grande vontade de promover a mudança na vida de todas aquelas pessoas.
Diariamente passavam por lá, em busca de alimentação no horário do almoço, mais de 100 pessoas e além da alimentação totalmente gratuita, os que se interessassem poderiam participar das atividades extras, propostas pela casa.
A minha função era preparar os alimentos pela manhã e participar do serviço no horário do almoço...mas tudo era tão intenso que quase nunca eu me contentava com minhas atividades.
Então comecei a participar da ARTETERAPIA, uma proposta muito interessante, de uma psico-pedagoga que, através de atividades lúdicas, com materiais diversos, identificava limitações individuais e, naquele curto espaço de tempo, tentava promover mudanças na forma do caminhar daquele indivíduo. Era emocionante demais!!! Quantas vezes lágrimas corriam por minha face!!!
E o mais fácil de ser identificado, à cada tarde de quarta-feira que nos reuníamos, era a carência daquelas pessoas, o quanto necessitavam ser vistos e escutados...e muitas vezes...simplesmente abraçados!!!
No início não era fácil pois estamos falando de pessoas moradores de rua, sem acesso às facilidades de uma simples higiene pessoal, o que dirá então roupas limpas, cheirosas como as nossas....
Mas eram seres humanos e, identificada a necessidade ou solicitado um aperto de mão, um abraço....como negar?
E por mais que eu fizesse parte de um grupo que estava lá, muito mais para dar do que receber, a sabedoria do universo se fazia presente...porque em muitos momentos.... me senti tão presenteada que nem saberia descrever....
E eles se deliciavam quando promovíamos simples comemorações em datas especiais, tais como uma festinha junina, por exemplo. A ligação deles com a música é algo incrível: uns se emocionavam, outros cantavam...outros simplesmente escutavam...mas tem até os que sabem tocar um violão, por exemplo....e não pensavam duas vezes em pedir ao músico voluntário Flávio, se poderia emprestar o violão....ehehehe
E foram tantos nomes: Marianas, Sérgios, Pedros, Marias, Franciscos....tantos seres tão especiais!!!!
Nossa...passaria aqui.... horas e horas descrevendo o que foram estes quase 18 meses de total participação neste trabalho tão edificante que a vida me deu de presente.....
Mas, a vida real está me chamando....e é hora de parar de contar histórias....mesmo que elas façam tanto sentido em minha vida!!!!
E por tudo isso é que eu levo a minha vida da forma mais simples possível.... porque já tive a oportunidade, mesmo estando deste lado do conforto, de conviver com quem não teve tantas oportunidades quanto eu!!!
Posso ter conhecimento, bens, portas abertas onde quer que eu vá...tão diferente deles...mas na essência, sou exatamente igual à cada um deles: com sabedoria, sentimentos e muitas emoções!!!!
(fonte: http://origemdapalavra.blogspot.com.br)
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