"Eu tenho que dar valor, conquistar as coisas, e não roubar, como alguns amigos fazem"
G.D., 11, estudante de um dos bairros mais violentos de São Paulo, no extremo sul da cidade, descobriu-se com um curso de jornalismo do Instituto Escola de Notícias em uma organização social que frequenta. Lá, seja diante de uma câmera, seja no papel de atriz ou de entrevistadora, aprendeu sobre sua história e a de sua família, além da importância de trabalhar em equipe. Mais importante ainda: compreendeu como lidar com dificuldades pessoais e, em meio ao medo exercido pelo tráfico de drogas, pôde se sentir criança.
Com metodologia diferenciada (valorizando histórias, investigações e pessoas), aliada à oferta de oficinas de jornalismo, foto e vídeo, produção de jornais, revistas e rádio, intercâmbios e formação de núcleos de comunicação, o Escola de Notícias, criado por Tony Marlon, finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2013, valoriza histórias de vida, transforma e dá voz e trabalho a jovens da periferia de São Paulo.
| Na Lata | ||
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| Instituto Escola de Notícias contorna problemas sociais com oficina de jornalismo |
Leia seu depoimento:
"A aula do Tony [Marlon] é legal só pelo fato de que eu tô aprendendo algo. É como se fizesse balé e aprendesse passos que poderia usar na aula de dança.
Eu gosto do jornalismo, e a aula dele me mantém fora das ruas. O meu bairro é perigoso. Se você fica na rua, e o traficante te pega, ele te estupra ou ameaça matar tua família se não fizer o que quiser. Isso é ruim. Esses dias até mataram e enterraram duas crianças de ponta-cabeça, só com os pés para fora. Dá medo.
Mas os vizinhos se ajudam quando alguém precisa. O Tony nos ensina isso também, a trabalhar em equipe. Ele ouve a gente. Até nos ensinou a falar com a nossa família, a saber da nossa história, de como nós nascemos, de nossos pais.
Ele mostrou que todos devem se respeitar, o que é bom, porque a minha voz não é muito boa, mas ninguém implica. Agora tenho mais firmeza para falar. Eu tinha vergonha de tirar foto, de ficar na frente da câmera. Agora não, até fizemos uma fotonovela.
Aqui posso tirar algo para um futuro melhor, como o livro que fizemos sobre a família, porque minha mãe me ensinou muito sobre o amor. E eu passei a entender meu pai. Eu ficava pedindo um monte de coisas, e ele não tinha dinheiro. Hoje sei que ele me dá o mais importante.
Muitas pessoas não dão valor [para o que recebem], mas eu dou. Veja o lápis que uso aqui. Meu pai e minha mãe nunca sonharam em ter lápis de cor destes, bons, com ponta nova. Então, eu tenho que dar valor, conquistar as coisas, e não roubar, como alguns amigos fazem.
E o Tony é exemplo, porque, mesmo baixinho como a gente, ele mostra que pode fazer coisas grandes."
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