Desde pequena, ela olhava pela janela, durante um tempo prolongado e muitas vezes, tinha a impressão de que a vida só acontecia lá fora... ou talvez, que havia algo, do lado de fora da janela, que complementava sua vida.
E esta sensação a acompanhou uma vida inteira...
Enquanto criança, buscava semelhanças e afinidades, que não conseguia enxergar nas pessoas que faziam parte de sua vida... e muitas vezes se sentia um E.T.
Por mais estranho que pudesse parecer, nada se encaixava e lá, olhando pela janela, tinha a impressão de que encontraria a resposta para todas aquelas indagações internas....
Afinal, ser humano tem por hábito comparar uns aos outros e, quando em família, identificar traços e semelhanças, é mais comum ainda!!!!
O cabelo dela era diferente, a cor de pele, o biotipo.... até mesmo atitudes.... não se sentia fazendo parte daquele círculo familiar....
Em alguns momentos, tinha a impressão de que era menosprezada, de que a viam de forma inferior, de que não lhe davam tanta atenção como para seus primos, por exemplo, que eram da mesma idade.
Se sentia reprimida, isolada e sempre muito sozinha, mesmo quando a casa estava cheia de gente.
E se esforçava para ser a melhor no que fizesse...e sempre conseguia. Se destacava nas artes, na escola, na comunicação, na escrita.... e sempre requisitada para dar conselhos aos amigos.
Mas, como ainda era muito jovem, não conseguia juntar as peças daquele quebra-cabeça. E o que mais desejava sentir, assim que passou a ter posse de sua vida, já na adolescência, era encontrar o amor.... aquele que move montanhas, que cura feridas, que fortalece nas dificuldades e que faz valer a pena a trajetória da vida.
Mas este, de verdade mesmo, jamais encontrou...nem mesmo no seio familiar!!!!
Se sentia preterida, até mesmo em relação ao que vinha das pessoas mais próximas da família: sempre havia alguma necessidade mais urgente....sempre imaginavam que ela saberia entender, que encontraria o melhor caminho, mesmo que sozinha.
E foi assim que ela cresceu e se tornou adulta.....mas sempre olhando pela janela e com a impressão de que, lá fora, havia algo muito especial; algo que, com certeza, seria a tal pecinha que faltava no quebra-cabeça.
A única coisa que ela ainda não havia percebido era que, a vida de cada um de nós, é permeado por padrões que foram desenvolvidos até, mais ou menos sete anos de idade, final de nossa primeira infância. São padrões resultantes daquelas informações que recebemos desde nosso nascimento e até mesmo, das percepções que tivemos mesmo na vida intra-uterina.
São registros que nossa mente armazenou e, mesmo que de forma inconsciente, tornam-se padrões no decorrer da trajetória, vida afora.
E não é só isso que contribuem para tais padrões: excesso de carinho, de cuidados, de proteção; ausência de referência, de limites, de bons exemplos, de direção; vivências traumáticas em família como dependência química, discussões constantes, violência, etc...todas estas situações acabam por permear o que nos tornamos em nossa vida adulta...muitas vezes interferindo fortemente nos relacionamentos futuros, sejam eles pessoais ou até mesmo, profissionais.
E por isso que um núcleo familiar saudável, presente e constante, se torna peça fundamental no desenvolvimento de um SER saudável e pronto para enfrentar todas as dificuldades apresentadas no decorrer da vida.
E no caso dela, que optou por uma vida mais independente do núcleo familiar, em detrimento às suas percepções pessoais desde a idade mais tenra, o equilíbrio das emoções não foi tarefa fácil de administrar..... porque aquela lacuna, jamais a deixou.
Por mais que ela sempre fizesse tudo o que julgava estar ao seu alcance, em prol de quem lhe era muito especial, jamais conseguia se sentir priorizada, valorizada ou até mesmo reconhecida; pesos e medidas sempre tinham valores diferentes e, quando se relacionava à ela, eram sempre menores!!!
E este padrão, o da baixa auto-estima, o da rejeição, sentimentos que roubam a qualidade de vida de qualquer pessoa, se mantiveram em sua vida; ela sempre tinha a impressão de valer menos que os outros, de não ser priorizada, amada, valorizada ...e a sensação de estar só, não a abandonava jamais!!!!
E este sobe e desce das emoções internas e das marcas mal resolvidas, interferiram muito, não só em sua vida pessoal mas também em sua trajetória profissional.
Mas ela jamais desistiu de buscar tais respostas; mesmo que não fossem referentes à sua origem....
Que a fizesse sentir, de forma consistente, esta vida ainda sem reais referências.
Insaciável nas pesquisas, através de cursos e leituras, na busca por novos conhecimentos, e na facilidade para aprender, contribuiu em muito para a formação dos filhos e mais ainda, para o crescimento do Ser que acabou por se tornar.
Mas, mesmo após meio século de vida, olhar pela janela ainda lhe faz muito sentido.... porque, as mais importantes respostas que tanto buscou em toda sua trajetória, ainda não faz parte das conquistas....
Mas como disse algum pensador:
"Se ainda não deu certo, é porque não chegou ao fim!!!!"
...e se tem uma coisa que ela deseja com todo o seu coração é seguir em frente.... fazer a diferença e brindar, em cada dia, a possibilidade de estar aqui.... fazendo parte desta engrenagem perfeita, intitulada
V I D A !!!!!
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